5.2.07
A Insustentável Leveza dos Méritos Agraciados
A ameaça concretizou-se : Souto Moura, ex-Procurador-Geral da República, foi hoje condecorado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, uma das mais altas condecorações do Estado Português.
Esta relaxada DQT (Democracia Que Temos) persiste na sua via vergonhosa, desonrando-se e desonrando-nos a todos nós, com os seus critérios enviesados para distinguir cidadãos.
Depois de ter premiado copiosamente o seu antecessor, igualmente agraciado com idêntico galardão, por inexistentes serviços relevantes prestados à Nação, eis que o seu Adjunto, logo designado para o substituir no cobiçado cargo, apesar de conivente nas ineficiências do desempenho, vem também, por seu turno, a receber igual distinção.
Depois de termos assistido ao compadrio funcional de Mário Soares, à frente da República, depois de havermos sofrido a mediocridade palavrosa de Sampaio, ambos infatigáveis viajantes e celebrados dissipadores da fazenda nacional, vamos agora começar a apreciar a decepção de Cavaco Silva, supostamente eleito por maioria contrária à que por vinte anos assegurou o exercício dos cargos dos antigos socialistas presidentes.
Cada vez esta degradada democracia cava mais fundo o seu túmulo de descrédito em que há-de um dia terminar ou nós por ela, para nosso amargo infortúnio e supremo vexame.
Assistimos com impotência e desespero ao progressivo apagamento do Regime, esgotado, desacreditado, refém de grupos e de parcerias.
Que diria disto o nosso arguto Eça, como classificaria esta nova choldra a robusta prosa de Ramalho Ortigão, que Farpas eles hoje enfiariam no dorso pútrido desta trôpega República ?
Como a tratariam as desenvoltas penas de um Herculano ou de um Antero, como a classificariam as exigentes bitolas de um Jorge de Sena ou de um António José Saraiva, um dos raros a rejeitar a condecoração presidencial.
Mesmo um Torga, aparentado com os socialistas, de nome, que não de prática, mas digno e cioso da sua condição de Português honrado ou um Vergílio Ferreira, desdenhosamente designado, por gente vulgar e imprestável, de Sartre de Fontanelas, como suportariam eles estas permanentes afrontas à nossa inteligência e ao nosso senso de pudor ?
Como sofreriam estes Grandes Portugueses tanta desfaçatez, tanta mediocridade mascarada de modernidade, como vemos hoje alardear a enfatuadas nulidades, especialistas da Comunicação, da arte de falar, sem nada de válido dizer ?
Como corolário de tanto tripúdio, democrático, sem dúvida, mas absolutamente indecoroso, admirem-se de Salazar e Cunhal virem à frente na votação dos Grandes Portugueses, no concurso que a TV presentemente promove, ainda esperançosa de que o Povo se incline para as figuras históricas clássicas : Camões, Pessoa, D. João II, Vasco da Gama, D. Henrique ou o distante fundador do século XII desta desventurada família, Afonso Henriques, a caminho de ser responsabilizado pelo actual impasse em que colectivamente caímos, qual interminável purgatório, de uma cada vez mais incerta salvação, para evitar o descalabro da vitória póstuma dos líderes de vocação ditatorial !
Parece aos próceres desta DQT difícil de aceitar que o Povo não vota tanto na Ditadura, como antes pretende destacar, nas figuras de Salazar e Cunhal, algumas qualidades ausentes da prática política dos líderes hodiernos, como sejam a crença em ideais, a vontade de lutar por eles, sem medo de morrerem pobres, como, de resto, começaram as suas controversas vidas.
Há-de parecer loucura tal ideário a quem, com poucos anos de actividade política, logo se torna rico e desembaraçado titular de múltiplos cargos de Administração ou de Gestão de Empresas, predominantemente criadas por outros, seus antecessores, lorpas, por certo, porque nunca usufruíram afoitamente das suas vantagens hierárquicas, comprovadamente por tacanhez de espírito ou rematada estreiteza de vistas.
Terá ainda possibilidade de Regeneração esta desconjuntada DQT ?
Remeto, mais uma vez, aos meus prezados concidadãos a urgência de uma resposta a tão excruciante questão.
AV_Lisboa, 05 de Fevereiro de 2007
Como a tratariam as desenvoltas penas de um Herculano ou de um Antero, como a classificariam as exigentes bitolas de um Jorge de Sena ou de um António José Saraiva, um dos raros a rejeitar a condecoração presidencial.
Mesmo um Torga, aparentado com os socialistas, de nome, que não de prática, mas digno e cioso da sua condição de Português honrado ou um Vergílio Ferreira, desdenhosamente designado, por gente vulgar e imprestável, de Sartre de Fontanelas, como suportariam eles estas permanentes afrontas à nossa inteligência e ao nosso senso de pudor ?
Como sofreriam estes Grandes Portugueses tanta desfaçatez, tanta mediocridade mascarada de modernidade, como vemos hoje alardear a enfatuadas nulidades, especialistas da Comunicação, da arte de falar, sem nada de válido dizer ?
Como corolário de tanto tripúdio, democrático, sem dúvida, mas absolutamente indecoroso, admirem-se de Salazar e Cunhal virem à frente na votação dos Grandes Portugueses, no concurso que a TV presentemente promove, ainda esperançosa de que o Povo se incline para as figuras históricas clássicas : Camões, Pessoa, D. João II, Vasco da Gama, D. Henrique ou o distante fundador do século XII desta desventurada família, Afonso Henriques, a caminho de ser responsabilizado pelo actual impasse em que colectivamente caímos, qual interminável purgatório, de uma cada vez mais incerta salvação, para evitar o descalabro da vitória póstuma dos líderes de vocação ditatorial !
Parece aos próceres desta DQT difícil de aceitar que o Povo não vota tanto na Ditadura, como antes pretende destacar, nas figuras de Salazar e Cunhal, algumas qualidades ausentes da prática política dos líderes hodiernos, como sejam a crença em ideais, a vontade de lutar por eles, sem medo de morrerem pobres, como, de resto, começaram as suas controversas vidas.
Há-de parecer loucura tal ideário a quem, com poucos anos de actividade política, logo se torna rico e desembaraçado titular de múltiplos cargos de Administração ou de Gestão de Empresas, predominantemente criadas por outros, seus antecessores, lorpas, por certo, porque nunca usufruíram afoitamente das suas vantagens hierárquicas, comprovadamente por tacanhez de espírito ou rematada estreiteza de vistas.
Terá ainda possibilidade de Regeneração esta desconjuntada DQT ?
Remeto, mais uma vez, aos meus prezados concidadãos a urgência de uma resposta a tão excruciante questão.
AV_Lisboa, 05 de Fevereiro de 2007
Comments:
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Nos longos anos em que fiz carreira militar, acabei por receber algumas condecorações. Felizmente poucas. Nunca ninguém me viu com elas, passados que fossem mais de 10 minutos após a sua imposição. E ainda hoje jazem oxidadas dentro de uma caixinha. Nunca na minha farda andei com tais adornos. Nem mesmo com as fitinhas.
Porque toda a gente mais tarde ou mais cedo recebia uma, por vezes muitas. Assim, não me pareceu que as medalhas fossem minimamente prestigiantes.
Quantas vezes assisti a condecorações que eram dadas para calar um não promovido... (Não prestas, vais para casa, mas pega lá uma medalha para te calares).
O caso Souto Moura parece-me paradigmático. Para que o povo não julgue que ele foi mau, para que o povo fique convencido de que existem critérios de selecção rigorosos, passa-se o homem a pano com "Vim Superactivo". Assim fica a brilhar e o pagode convencido de que tudo vai bem.
Acabo com uma citação do livro "O Receituário de Peter":
"Aquele que louva toda a gente não louva ninguém" - S Johnson (?)
Porque toda a gente mais tarde ou mais cedo recebia uma, por vezes muitas. Assim, não me pareceu que as medalhas fossem minimamente prestigiantes.
Quantas vezes assisti a condecorações que eram dadas para calar um não promovido... (Não prestas, vais para casa, mas pega lá uma medalha para te calares).
O caso Souto Moura parece-me paradigmático. Para que o povo não julgue que ele foi mau, para que o povo fique convencido de que existem critérios de selecção rigorosos, passa-se o homem a pano com "Vim Superactivo". Assim fica a brilhar e o pagode convencido de que tudo vai bem.
Acabo com uma citação do livro "O Receituário de Peter":
"Aquele que louva toda a gente não louva ninguém" - S Johnson (?)
Cavaco Silva está a revelar-se uma desilusão. Condecorar Souto Moura, depois deste ter feito a triste figura que fez no cargo de Procurador Geral da República, parece uma anedota de mau gosto.
Sokal
Sokal
Adorei sua "DQT"!
Gosto quando as homenagens são feitas enquanto a pessoa ainda está viva, como o caso que citou.
Li seu texto abaixo. Não sabia que os atores portugueses passavam por esses "estudos" quando atuam aqui. O jeito de vocês falarem, bem como o uso correto da Língua, não deveria ser mudado.
E o inverno por aí, como está?
ABRAÇOS.
Bisbilhoteira.
Gosto quando as homenagens são feitas enquanto a pessoa ainda está viva, como o caso que citou.
Li seu texto abaixo. Não sabia que os atores portugueses passavam por esses "estudos" quando atuam aqui. O jeito de vocês falarem, bem como o uso correto da Língua, não deveria ser mudado.
E o inverno por aí, como está?
ABRAÇOS.
Bisbilhoteira.
Será sina lusitana? Parabens pelo texto que em poucas e certeiras palavras desmaquilha tanta verborreia que inebria o nosso povo tolhendo-o até à Alma.
Há que continuar ...porque outros fantoches se aproximarão do pódium...
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Há que continuar ...porque outros fantoches se aproximarão do pódium...
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